Dezembro
Disseram-me hoje que o meu Dezembro dava uma rica história. Um projecto com trinta e mil burocracias que não fazem sentido e são contraditórias. Milhares de compras que têm que ser feitas no mesmo mês em que mais 10 milhões de portugueses também as fazem. Calendarizações, pedidos de alterações, sistemas de segurança, acesso à internet, seguros, orçamentos, clips, agrafes, barro, papel crepe, carpetes, impressoras, computadores, projectores, e mais trinta e mil coisas que têm dado cabo da minha cabeça ao ponto de já ter deixado telemóveis no meio do metro, luvas em estações de serviços, cadernos em cafés, prendas em casa, entre outros acontecimentos infelizes que graças a minha grande sorte e à simpatia de muitas pessoas não tiveram consequências mais graves. No meio disto só faltou mesmo o Natal, uma viagem, um emprego para finalizar e uma grande desilusão.
um adeus sem saudades?
Não gosto muito de balanços, embora haja sempre uma tendência para pensar neles graças a esta invenção de cortar o tempo em meses e anos. Há o factor simbólico do começar e do acabar. De facto, acho que nunca uma passagem de ano representou tanto um fim e um começo com este.
Digo adeus a um emprego de 2 anos, com os seus altos e baixos, digo adeus a colegas que gostei de conhecer e digo adeus (ou um até já!) a uma área sobre a qual aprendi bastante e que foi sem dúvida uma mais valia na forma de ver e estudar a sociedade. Mas há também o alívio de sair de um mundo difícil, onde o poder significa tudo, onde as hierarquias são mais importante do que o respeito pelas pessoas. Os jogos, o cinismo, os berros, o mal-tratar, o mexer com a vida das pessoas como se fossem objectos é um quotidiano que definitivamente não gostei de conhecer, mas que representa o mundo da maior parte das pessoas. Neste mundo humilhar as pessoas (principalmente as mulheres) é valorizado e é considerado como um sinal de força e de confiança.
Próxima etapa: um grande desafio que espero estar à altura!
