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sexta-feira, outubro 13

Mais tradições...

Nas reportagens que enchem hoje os jornais sobre a “vida de um/a caloiro/a”, parece ser consensual que as praxes são boas porque “conhecemos todos os doutores do nosso curso” (Coimbra) e por “permitirem que as pessoas se conheçam e se relacionem” (Lisboa). Pronto e ficamos por aqui nas opiniões que os estudantes têm sobre este ritual, que visto de fora é completamente absurdo. Até porque parece óbvio que pode haver múltiplas formas das pessoas se conhecerem umas às outras, sem que haja a necessidade que esse conhecimento seja feito com base na humilhação e no autoritarismo. Ou alguém precisou de praxes para conhecer os colegas do secundário?
Infelizmente, para muitos dos estudantes deslocados a praxe é a única opção apresentada que lhes permite conhecer novas pessoas em pouco tempo, até porque as pessoas têm a tendência para se aproximar em determinadas situações (por exemplos situações de sequestros, assaltos, etc), mesmo que depois descubram que nada têm em comum. E é por esta razão que muitos aderem à praxe, sobretudo alunos deslocados sem qualquer ligação à cidade onde foram parar. Sim, porque pouco se fala na maioria de estudantes que nem se dá ao trabalho de se deslocarem à faculdade nesses dias. Esses geralmente são da próxima cidade, sem que a pressão simbólica da “integração” tenha qualquer efeito.
Mas o problema está sem dúvida no secundário, em toda a nossa educação básica. Porque no fundo a questão é “como é possível que jovens de 18 anos não questionem o ideia de que a integração se faz através da humilhação e submissão?” Esta premissa, que é a base das praxes é absurda para a maioria das pessoas, mas a dentro do contexto das praxes ela parece fazer todo o sentido para essas mesmas pessoas. E faz sentido simplesmente porque nunca nos habituamos a questionar o que é “tradição”, o que foi-nos ensinado, o que está presente desde sempre. Se os próprios estudantes justificam a vantagem das praxes com o conhecer pessoas, como é possível que não passe pela cabeça da maioria que conhecer pessoas através de actividades humilhantes é absurdo?
Ok, ando para aqui a divagar sem dizer grande coisa de jeito, apenas porque gostava de fazer estas perguntas às pessoas que me aparecem na rua com a palavra “burro/a” escrita na testa. Apesar da experiência de já o ter feito várias vezes quando andava na faculdade com muito pouco sucesso. Muitas vezes era tarde de mais e éramos poucos. Até porque é preciso confiança para sair a meio de uma sessão de praxe, sabendo que aqueles vão ser os nossos colegas por mais 4/5 anos (agora são só 3).

A juntar à estupidificação da praxe, só o facto da maioria das pessoa que entra (ou saí) neste momento na faculdade, não fazer a mínima ideia do que é Bolonha, ou pior não querer saber!