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sexta-feira, março 31

Sociologia, sociólogos,...

Ouvir um sociólogo, Michael Burawoy, falar sobre um projecto para a sociologia, maior que a simples procura de aproximações e explicações para a realidade, não deixa de ser uma lufada de ar fresco. Desde que entrei no programa de mestrado que oiço, repetidamente, sobre os perigos de “abandonarmos” a nossa cientificidade. O perigo está na ideia de uma sociologia mais prática, que saia do quadro protector da universidade e que tenha como objectivo não só a mera descrição da realidade, mas também a procura de soluções que alterem essa mesma realidade. Não é difícil notar que este é um assunto polémico dentro das próprias universidade, mas não foram precisos muitos dias para me aperceber que tinha entrado no mestrado errado e com os professores errados, no sentido que está ali o nicho dos “académicos” por excelência, com ideias marcadas de mera progressão académica. É óbvio que consigo ver em alguns colegas uma genuína vontade pela produção científica, pelo fascínio em descobrir e em aprender, que é o que torna as aulas um espaço de discussão interessante.
Não consigo identificar-me com a ideia que os sociólogos devem estar o mais possíveis afastados da sociedade, devem ser meros observadores, sem opiniões, sem ideias, sem ideologias. Primeiro, parece-me óbvio que isso não possível, que a ideia de neutralidade é ela própria uma clara afirmação ideológica, geralmente relacionada com o conservadorismo. Segundo, somos todos cidadãos/cidadãs e como tal, tudo o que acontece na sociedade, nos diz respeito. Terceiro, enquanto cientistas sociais temos a vantagem de vermos a sociedade como um todo, de observarmos as situações sociais como tendo consequências e como sendo causas de algo. Uma noção oposta à ideia de individualismo, que é no fundo a base do liberalismo económico. Quarto, a ideia de cientificidade está sempre em perigo, independentemente de objectivo de no fim existir um projecto que reformule/ que altere/ que modifique a sociedade.
Enfim.. Haveria muito para dizer e para discutir sobre este tema. Mas uma ideia base ficou-me da conferência, a de que a sociologia tem tudo a ganhar com o diálogo, em fazer sociologia não sobre e para as pessoas, mas também com as pessoas. Abrir as universidades e participar conjuntamente com a sociedade civil na procura de uma defesa conjunta contra os autoritarismos do Estado e os mecanismos do mercado.

2 Comments:

  • isto pode referir-se também à Antropologia e outras ciências sociais. a utopia, neste diálogo necessário, é que a linguagem utilizada na academia seja uma linguagem acessível a todos. entretanto, 'com as pessoas' já não era nada mau

    By Blogger Rita, at 12:28  

  • Tens toda a razão. Falo na sociologia porque a conheço melhor, mas o mesmo aplica-se a todas ciências sociais e até às ciências naturais.

    By Blogger Ana, at 12:42  

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